

Poucos dias após lançar um serviço limitado de robotaxi em Austin, Texas, a Tesla realizou uma façanha para demonstrar o avanço de seu software de direção autônoma. A empresa permitiu que um Model Y percorresse cerca de 24 km — do seu centro de produção até o complexo residencial onde o novo proprietário mora —, completando o que o CEO Elon Musk chamou de “primeira entrega autônoma” de um veículo a um cliente.
O carro foi equipado, supostamente, com o mesmo software usado nos robotaxis Model Y em Austin, porém, ao ser entregue, teve seu sistema rebaixado para a versão comercial Full Self-Driving (Supervised), que exige que o motorista fique atento e preparado para retomar o controle a qualquer momento. Não havia ninguém a bordo, e Musk afirmou que não houve assistência remota durante o trajeto.
O feito ocorreu num momento significativo para a Tesla, que divulgará os números de entrega do segundo trimestre esta semana e os resultados financeiros do período ainda neste mês. As expectativas são de desempenho fraco para a empresa, que registrou queda nas vendas em 2024 – antes de Musk envolver-se publicamente com a administração Trump, o que prejudicou a imagem da companhia. Vale notar que o preço das ações da Tesla subiu na sexta-feira à noite após Musk compartilhar sobre a condução, mas recuou posteriormente após um dia turbulento de negociações na segunda-feira.
Quem conhece Austin sabe que a rota percorrida pelo Model Y, mesmo num dia claro e ensolarado, foi desafiadora. Em um vídeo de 30 minutos (existindo também uma versão acelerada de cerca de 3,5 minutos), o carro entra e sai de uma rodovia, faz conversões à direita em sinal vermelho, contorna uma rotatória e executa uma conversão à esquerda sem semáforo – desafios que há poucos anos representariam dificuldades para veículos autônomos.
Outras empresas também já testam trajetos mistos entre rodovias e ruas comuns. Veículos da Waymo, por exemplo, trafegam em rodovias em Los Angeles, Phoenix e São Francisco (ainda que apenas para funcionários), e a Zoox já ofereceu uma viagem autônoma por vias de 72 km/h e ruas laterais em Las Vegas, em janeiro.
Apesar da simplicidade aparente no vídeo da Tesla, o episódio levanta questões importantes, como os preparativos feitos antes de permitir que o carro deixasse a fábrica. Este questionamento remete à polêmica de 2016, quando a Tesla divulgou um vídeo de um veículo “dirigindo sozinho” na Bay Area – com um funcionário agindo como operador de segurança – que muitos consideraram enganoso ou até encenado. Na época, a rota havia sido previamente mapeada e ensaiada várias vezes, com o carro exigindo intervenção do operador. O engenheiro Ashok Elluswamy afirmou, em depoimento em 2022, que o intuito do vídeo não era mostrar o que estava disponível para os clientes, mas sim o potencial do sistema.
Observa-se também que veículos Tesla, equipados com lidar e outros sensores, têm sido vistos na região sul de Austin, onde ocorre o teste do robotaxi – o que levanta a dúvida se esses carros foram utilizados para preparar o trajeto em questão. A Tesla não respondeu a essa consulta.
Outra questão importante é se o software da Tesla pode repetir esse trajeto de forma segura várias vezes, seja de forma remota ou com intervenções mínimas. Realizar a condução uma única vez é um feito, mas a repetibilidade e segurança contínua são os verdadeiros testes da confiabilidade da tecnologia.
Além disso, essa entrega de veículo se sobrepõe a uma promessa maior feita por Musk – também em 2016, e reiterada ao longo dos anos – de que o software autônomo da Tesla permitiria levar um carro de Los Angeles a Nova York sem qualquer intervenção.
Por fim, mesmo diante de todos esses avanços, críticas permanecem. Por exemplo, o crítico Dan O’Dowd, conhecido por sua posição contundente contra o FSD da Tesla, salientou que o carro parou em uma faixa de incêndio perto do apartamento do cliente. Essa crítica, embora válida, é considerada menor por alguém cuja organização recentemente expôs Model Y SUVs a testes extremos.